sábado, 30 de outubro de 2010

A RUÍNA


A Ruína

Peça num só acto.

A cena decorre nos nosso dias.

O cenário:

   Numa pequena sala rectangular, mal iluminada, estão dezoito homens sentados, distribuidos por detrás de nove mesas. Todos  se vestem de igual. Estão posicionados em “U” em relação a um orador que está de pé. Este tem na sua frente uma secretária metálica. Atrás, um grande quadro branco.
   As cadeiras utilizadas, são do tipo esplanada de “café de bairro”, dos subúrbios degradados, de um qualquer aglomerado populacional. Cada uma das mesas é ocupada por dois indivíduos. Estas são de construção básica, têm tampos de fórmica cinzenta. Condizem com o ambiente

Sobe o pano:

   Um silêncio profundo domina o espaço. Ninguém se move, com excepção do orador que de pé, por detrás da secretária, gesticula. Da boca, saem-lhe palavras mudas, para o público.
   Um ruído, de estática, no inicio quase inaudível, vai ganhando volume. Progressivamente  tornar-se-à ensurdecedor. O tempo passa sem que mais nada ocorra.  
   Finalmente, um movimento. No limiar da dor, um dos intervenientes, levanta-se e tenta sem êxito fazer-se ouvir.
   Outro se põe de pé, enrubescido pelo esforço, feito inutilmente, para que o escutem..
   Um outro, e mais outros se levantam, bradando a plenos pulmões.
   Os espectadores nunca saberão o teor das palavras vociferadas.
   Na abertura do “U” os oradores vão passando, alheios ao drama vivido pelos presentes.
   As vozes do grupo em uníssono abafado, pouco menos são que inúteis. Porém funcionam como um elemento aglutinador. Mantêm-no coeso.
   Num repente um dos membros da equipa levanta-se, despe a camisola, atira-a ao chão. O estrépito que se fazia ouvir, insuportável, no limitado espaço desvanece-se. Alguém na sombra dos bastidores, desliga o ruído de fundo. A voz ouve-se agora perfeitamente.
    Personagem E: - Abram os olhos e escolham quem realmente quer aprender, e não por simpatia, ou porque é um coitadinho, a quem vão tirar o subsídio.
  Rompe-se a união que caracterizava o grupo. Fica em causa o critério usado na triagem  de cada um dos elementos. Intrinsecamente o valor dos atributos individuais, no momento da selecção.
    O silêncio volta a dominar o ambiente.
   Um som cavo, acompanhado de um tremor, ganha força assustadoramente. Solta-se o verniz protector, a cor da tinta esbate-se. Em poucos segundos, todo o cenário se desmorona.
   Os intervenientes na cena, precipitam-se descontroladamente para a saída. É cada qual por si.
Caí o pano
(Ninguém aplaude)
                                                                  
                                                                  Por: Luís Contumélias

6 comentários:

  1. Boa analogia, o palco é demasiado pequeno para certas pessoas, mas não esqueçamos que o mundo real é muito grande. Obrigado colega. RJ.

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  2. Obrigado, Contumélias e Rodrigo é verdade que o nosso palco é pequeno, mas acredito que há espaço para todos. Mas acima de tudo no Mundo real temos hectares de espaço para nos movimentar e fazer o que realmente queremos, Trabalhar.

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  3. Sublime, amigo Luís, simplesmente sublime. Já te disse, um dia....Justiça será feita. No entanto, esta história faz-me lembrar aquela do balde de caranguejos.

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  4. Os meus parabéns Contumélias, este guião de leitura muito fácil, retrata tão bem os actores quando desempenham os seus papais...

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  5. Caro Luis, da ruína ou caos , vem a harmonia como no universo. E tal como em toda a natureza a selecção natural é feita seja em que sítio(ou palco) for mais tarde ou mais cedo.

    Ricardo Coelho

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