quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Fogo, Caraças e Bolas

Estacionei no já célebre estacionamento do Centro com os seus famosos calhaus.
Ao sair do Centro reparei que o carro fora atingido por uma pedra na porta do lado do condutor.
Larguei de seguida uma combinação de impropérios ao olhar para a consequente mossa. Acho que até me insultei a mim mesmo, por haver estacionado naquele local.
A mossa não desapareceu, mas senti-me mais aliviado.
Já a caminho de casa, dei comigo a pensar naquele tipo de linguagem e numa aula com o nosso professor a reprovar as expressões de calão como: fogo, caraças e bolas.
Ora bem, se o professor acha impróprio usar a gíria e, pelos vistos (segundo ele) nunca usou tais termos, só me resta imaginar qual seria a sua reacção numa situação idêntica.
Acho que seria mais ou menos assim:

…Acertaram com uma pedra na porta… reparem, na deformação plástica que esta sofreu…calculo que a pedra tenha viajado num ângulo de trinta graus a velocidade X...
…ora bem, o coeficiente cinético para vencer o atrito estático foi…

Notável.
Ainda pensei noutra situação que me aconteceu antes de estar desempregado.
Sucede que ao sair de uma carrinha (transporte de operários), um colega inadvertidamente fechou a porta corrediça da carrinha, entalando-me três dedos.
Torci-me todo com dores…
Não consegui evitar. É claro que comecei a praguejar e soltei todos os impropérios do 1º e 2º grau, empreguei todas as combinações e fórmulas possíveis e imaginárias.
Acreditem, não foi suficiente, a dor não passava.
Já o nosso professor, que se recusa a usar tais vocábulos, simplesmente diria…

… Vejam como os vasos sanguíneos dilatam… reparem na cor das unhas, como elas estão a sofrer uma transformação de estado…

Bastante terapêutico.
É assombroso, digno de admiração conseguir controlar ou contrariar a tendência natural de soltar um ou outro insulto numa situação destas.
Tento primar pela excelência, mas não consigo evitar este impulso de libertar os meus vitupérios quando me pisam.
Já agora…

Caraças
interjeição
coloquial exprime ironia, admiração ou impaciência;
coloquial do caraças muito grande, importante, impressionante, excelente;
coloquial o caraças! exclamação designativa de desacordo
In Dicionário Porto Editora

Alberto Silva

2 comentários:

  1. se pensarmos nesse senhor nessa situação, também sairia qualquer coisa como:
    " mas que ser ignóbil terá provocado semelhante estrago na minha preciosa viatura!"

    "Só mesmo alguém muito ignorante e sem nem um cagagésimo de respeito pelo próximo é que faria tal coisa sem qualquer sentido"

    "Já não vou poder ir passear com a minha cara-metade para a praia"

    Sinceramente, pagava para ver semelhante filme e poder olhar para ele com o mesmo ar irascível e execrável com que sou(somos) retribuído(s)...

    Os melhores cumprimentos da sempre presente fã e companheira de luta... ;)

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  2. Amigo Alberto, estiveste bem, muito bem mesmo.
    No entanto não gosto de deixar passar em claro aquilo e que vou tropeçando (foi no calhau.) Ora lá vai então:
    Usando de todo o respeito que me é possível usar, quero lembrar-te que a quem chamas professor é na verdade, Formador. Professores existirão poucos neste Centro. Em qualquer dos casos licenciados, ou "experts" nas variadas áreas estão eles obrigados a terem formação para serem Formadores. Obtendo então o CAP.
    A postura que ele mantém em casa não deveria sair de lá. Mudando de assunto. Felizmente que os calhaus não nos acertam todos os dias.

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