segunda-feira, 18 de outubro de 2010

ADMINISTRAÇÃO SEGURANÇA E TERRITÓRIO


     Januário Domingos, o Malagueta, homem rude, nasceu numa pequena aldeia. Cedo se apercebeu que o negócio da sucata seria rentável.
    No alto dos montes onde pastava as ovelhas, todos os dias assistia à distância a acidentes provocados quer pelo mau estado do piso quer pela incúria dos condutores.
   Vendeu as ovelhas, e às portas da cidade que ficava próxima, instalou-se dentro da vedação do terreno que comprara.
  Não tardou nada, e tinha um considerável parque de sucata automóvel.
  Travou conhecimento com alguns agentes da GNR local, que procuravam viaturas roubadas. Amigos que eram de animados e bem regados petiscos, logo o Malagueta arranjou lebres, coelhos e que mais…
  Foi assim que conseguiu que fossem fechando os olhos, ao facto de andar a conduzir sem carta, e sempre bêbado. O Januário sabia lá da existência da DGV actual IMTT, instituto da mobilidade e transportes terrestres, nem ler sabia…
  Mas os tempos mudaram. O Malagueta, não. Um dia decide fazer uma viagem à terra, na velha Ford transit, que nunca conheceu uma IPO, inspecção periódica obrigatória. Seguro obrigatório nem vê-lo.
   Precedido por uma nuvem de fumaça, acelera estrada fora. Ao chegar perto da aldeia surge-lhe de repente uma rotunda, que o Malagueta jura não existir antes. Visa a dita rotunda diminuir a velocidade de aproximação dos condutores ao cruzamento, para que a circulação se faça em maior segurança.    Decisões da Prevenção Rodoviária. Em menos tempo que eu demorei a fazer a descrição, já o Januário tinha desfeito uma roda e o triângulo da suspensão. Mas este não se deixou abater.
   Outro dia, outro chaço nas mãos, e ala que é cardume. Desta vez com atenção às rotundas. Consegue mesmo ultrapassar a fatídica, onde deixara uma roda completa ainda tão boa. Recordou. Contudo à entrada de outro cruzamento há semáforos…automáticos, de indução magnética. Detectam a viatura por variação de campo. Farto de esperar, pois parara antes da área de detecção, passa com o vermelho.   Algumas semanas depois o antigo dono do carro receberá a foto e a multa.
   Tratou do que tinha a tratar, comeu e bebeu melhor, e para evitar percalços, decidiu o regresso pela nova auto-estrada, que a Brisa geria.
Prego na chapa, aí vai o Domingos empenhado em saber que velocidade ainda marcará o velho carro. Foi a suficiente para fazer disparar o radar instalado no percurso.
   Num ápice o Malagueta vê a vida a andar para trás. É-lhe feito alto e encaminhado para uma área de serviço. Conhece pela primeira vez o alcoolímetro, onde é obrigado a bufar desalmadamente, sendo a escala curta para a medição. Sem seguro, sem carta de condução, nem inspecção, o Januário está condenado. É conduzido aos calabouços da GNR a aguardar julgamento até ao dia seguinte.
   O juiz é implacável e põe o Domingos à sombra durante uns meses.
  Na saída um novo rebanho de ovinos, aguarda-o apascentando calmamente na relva da rotunda do presídio.

                                   LUÍS CONTUMÉLIAS



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